Outrora conhecida como Palácio, a Casa da Cerca ocupa um lugar cimeiro na colina, destacando-se na paisagem para quem percorre algumas ruas do centro histórico de Almada, circula pelo Cais do Ginjal ou atravessa o Tejo. Apesar da sua imponência, esconde-se entre muros sendo, por isso, chamada de “Cerca” desde, pelo menos, os primórdios do século XVIII.
A Sul, encontramos um portão de ferro que nos convida a entrar. Observamos os corpos laterais do edifício unidos por um passadiço murado com uma entrada por onde passamos e chegamos ao pátio. Rodeado pela casa em forma de U e pelo muro da entrada, o pátio é uma zona fechada a céu aberto que nos acolhe e protege.
Desde há muito que o pátio de uma casa senhorial - pátio de recebymento, dito na Idade Média - era o ponto de ligação e de organização dos vários espaços da casa e das múltiplas funções que nela se cumpriam. Tipicamente, o piso térreo era a área de serviços e o piso superior, a área nobre.
Zona de estacionamento de carruagens (a cavalariça era na atual receção), lugar de acolhimento e despedida de convidados e de convívio familiar, o pátio marcava a separação entre as esferas pública e privada do habitar – entre o universo exterior e o universo familiar e intimista. Dois lanços de escadas dão acesso à varanda do piso superior realçando, arquitetonicamente, a relação de poder de quem acedia ou vivia ao andar nobre sobre quem permanecia no piso térreo, inferior e mundano. O pátio fora, outrora, um lugar ambíguo, de separações e de encontros.
Família Theotónio Pereira, Casa da Cerca, finais séc. XIX
Em 1993, a Casa da Cerca tornou-se um lugar público, um Centro de Arte Contemporânea. O pátio conduz-nos agora a espaços de fruição artística e de pesquisa sobre o nosso Tempo, através das exposições e do Centro de Documentação e Investigação. Leva-nos também ao Chão das Artes - Jardim Botânico, onde nos deleitamos e contactamos com plantas produtoras de materiais para as artes plásticas.
O pátio é, desde então, o centro do Centro, casa de partida e de chegada de prósperas vivências com a comunidade através da Arte, do Jardim e do Património.